Trabalhando como Supervisora Pedagógica em uma Creche que atende crianças entre 3 a 6 anos, presenciei a necessidade de se pensar uma proposta que contemplasse o respeito e o amor como fundamentos à uma educação voltada para a paz.
As crianças apresentavam quadros de racismo e repulsa a tudo que transcendia a cultura delas, podendo se destacar as seguintes diferenças: físicas (gordo, magro, alto, baixo, negro, japonês…), religiosas ( católicos, espíritas e evangélicos) e outras mais. Algumas desenvolviam atitudes agressivas com os colegas ao realizarem atividades em que houvesse o contato direto com outras culturas.
Após pensar e repensar, elaborei um projeto de ação a ser desenvolvido na Instituição, em cárater experimental. O projeto em questão acontece da seguinte forma: Uma senhora aparece na Instituição com seis ursinhos de pelúcia, sendo: um obeso, um desnutrido, uma deficiente física, um deficiente visual, uma surda e muda e uma deficiente física. Esta senhora argumenta que tem um filho doente e que necessitará de viajar para cuidar dele, e como não tem com quem deixar seus ursinhos, ela resolveu pedir que as crianças da Creche cuidem deles até que ela volte.
Neste contato ela relata que encontrou os ursinhos durante um passeio em uma chacará, eles estavam sozinhos na mata, com fome e frio. Ela os truxe para casa e vem cuidando deles até que se recuperem para que sejam levados de volta à mata. Cada bichinho tem sua mochilinha contendo roupas, materias de higiene e pessoais.
À equipe pedagógica cabe a distribuição dos ursinhos, a escolha dos nomes (feita através de eleições, focando o direito a voto), e a roda de conversa com a turma, esclarecendo aspectos importantes ao desenvolvimento do projeto tais como: cada criança ficará responsável pelos cuidados com o ursinho por um dia, dentro da Creche e levando-o para casa.
No outro dia, a criança traz o ursinho de volta, em roda de conversa a educadora questiona como foi a experiência e transfere os cuidados a outra criança. Dentro da Creche o responsável pelo bichinho deve cuidar dele constantemente, no refeitório, nas atividades psicomotoras, parque, brinquedoteca e tudo mais.
O planejamento das aulas deve abordar atividades que contemplem o projeto, tais como: um colega coloca uma venda nos olhos e outro lhe serve de guia ( enfatizando as dificuldades enfrentadas por um deficiente visual), durante esta atividade a criança deve se alimentar, e realizar as demais atividades de rotina, com os olhos vendados.
Também, as crianças devem colocar um braço para dentro da camiseta e executarem as atividades diárias com somente um braço (enfatizando as dificuldades enfrentadas por um deficiente físico), conversar por mímicas (focando as dificuldades enfrentadas por um surdo ou mudo), explorar a importância de uma alimentação saudável ( focando os problemas de saúde e psicológicos enfrentados por obesos ou magros) e trabalhar o racismo ( conversando sobre o preconceito sofrido por negros, índios e outras raças diferentes).
Atividades: modelar o ursinho com massinha, mosaíco dos ursinhos, colagem das letras dos nomes dos bichinhos, perfurar o nome deles, desenhar com um só braço ou com os olhos vendados, etc.Solidariedade: Promover uma Campanha de arrecadação de roupas para os ursinhos.Todo este processo deve ser acompanhado de filmes, histórias, teatros e outras situções que abordem o tema, como enriquecimento do trabalho.
Filmes como “A Era do Gelo”, “Alvin e os Esquilos”, Lucas-um intruso no Formigueiro”, “Happy Feat”, “A Menina e o Porquinho”, etc. e histórias como “Os Pingos” – Mary França e Eliardo França, “O Patinho feio”- Clássico da Literatura infantil, “O menino marrom” – Ziraldo , etc. retratam o convívio com diferenças. As famílias devem ser informadas sobre o projeto e interagirem, juntamente com todos os profissionais da Instituição na execução do projeto, enfatizando o respeito, o companheirismo e o cuidar do outro, independente de suas diferenças.
O resultado que se obtem com este trabalho engloba crianças mais calmas, famílias envolvidas, respeito, paz nos relacionamentos, inclusive dos profissionais da Instituição e amor, muito amor. Precisamos eliminar a cultura da violência e criar a cultura da paz, e é na Educação Infantil que está a chave para esta inversão, visto que nesta fase as crianças são mais receptivas e acreditam na fantasia a que este projeto remete.
Como experiência própria, vivi o sucesso deste projeto e acabei anexando-o na Proposta Pedagógica da Instituição como permanente, devendo ser trabalhado durante todo o ano.